Nunca é fácil terminar um
relacionamento. Ainda mais quando a mudança não parte da gente.
Parte a gente. Falo daquele pé na bunda indesejado, inesperado, de
um ciclo encerrado abruptamente e de forma unilateral. Situação
terrível, choque de fantasia, distorção da realidade. Vontade de
não mais existir. Mas existem flores brotando no deserto sentimental
que vivemos no momento da fossa. Basta querer enxergar.
É difícil ter consciência quando o
chão se abre sob nossos pés, quando a dor no peito desatina e a
razão não faz mais sentido. Complicado ter que buscar uma força
que desaparece, lidar com a sequência daqueles
minutos de angústia. Mesmo assim, é preciso um último suspiro, um
fôlego de sobrevida, um apoio fraterno dos amigos pra tirar a gente
de casa, daquele estado moribundo. Temos que nos abraçar em algo ou
alguém, nem que seja no travesseiro como hospedeiro das lágrimas,
ou nas canções que sempre nos entendem - eternas companheiras da
solidão.
Passada essa fase mais crítica, que
dura 72 horas, o mundo aos poucos começa a se colorir novamente. A
dor não foi embora. Está ali. De certa forma, aprendemos a lidar
com ela. Entendemos que não vamos esquecer, então o melhor é não
lembrar. Nem sempre temos sucesso na empreitada, mas aos poucos vamos
substituindo as lembranças por novos momentos. Queremos rir, mas a
gargalhada, quando sai, é nervosa, abafada, logo sufocada pela
culpa. Parece que não temos o direito de sorrir novamente. O jeito é
insistir, continuar sorrindo até o gesto se tornar natural. Quando
isso acontecer, é sinal de que uma nova vida começou.
Prepare-se para a sua melhor fase. O
primeiro reflexo é na balança. O espelho fará as pazes com você e
isso vai ajudar na sua autoestima. A cada dia que se inicia, um novo
elogio. O caminhar terá passos de confiança, o cabelo jogado pro
lado criará uma onda de admiradores, secretos ou revelados e os
feromônios estarão em ebulição. Você pode até não estar em
caça, mas definitivamente voltou à selva. E pode muito bem escolher
sua presa.
Quando a mulher ultrapassa aquele
estágio de desilusão, tudo estará diferente. Melhor inclusive do
que antes da última relação. Restará a experiência, as lições
dos erros cometidos, a certeza de que ela se entregou por inteira –
porque não existe mulher que se doe pela metade. Ninguém gosta da
rejeição, do desprezo, ou do abandono de quem confiamos nosso mais
puro sentimento, porém se houver o discernimento de superar essa
fase, a mulher irá descobrir que pode renascer ainda mais viva,
ainda mais forte.
Dói, mas passa. E quando passa, tudo
será melhor. Basta esperar as primeiras 72 horas.