“Amor não se pede, se implorar resolvesse, não me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer.
Do ridículo ao medo: pularia pelada de bungee jump.
Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado,
de qualquer espírito. Mas amor não se pede, imagine só. Ei, seu tonto,
será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou
aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso. Ei,
seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de
uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não
pode dizer isso. Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como
um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem
vida com a sua presença Definitivamente, não, melhor não.
Amor não se
pede, é uma pena.
É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade
e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha,
olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói
sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não
dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô sofrendo aqui, vamos parar
com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema? Mas
amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei. Raiva dele ter
tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele
fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em
algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do
mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira
de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza, mas por alguma
razão, você está vazia. Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar
pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta.
Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem.
É triste ver o
Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são
tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as
noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele
cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a
busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida. É
triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo
fazer alguém feliz. Tanto amor querendo escrever uma história, mas só
escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra
comprar, substituir, esquecer, implorar. É triste lembrar como eu ria
com ele. Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de
uma coisa? Ele sabe, ele sabe.”
— | Tati Bernardi. |
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