Não existe casal perfeito. Não existe casal sem brigas. Porque é
praticamente impossível que dois seres humanos, naturalmente imperfeitos
e egoístas, consigam viver sem ao menos um desentendimento na vida. As
diferenças e divergências acabam surgindo conforme a relação vai se
desenrolando, e é exatamente aí que começa o desafio de construir uma
parceria sólida. É a partir daí também que
vai se percebendo a linha tênue entre dor e prazer que existe em
relacionamentos amorosos. É comum ouvir que não compensa ter uma relação
sem dor, porque, como alguns acreditam, a dor implica em crescimento.
Mas como sabemos quando o crescimento acaba e resta apenas a dor vazia?
Somos masoquistas ou otimistas se persistimos em um relacionamento que
sempre beira essa linha?
Há quem acredite que para ser amor, tem que doer. São os mesmos que
espalham aos quatro ventos que: “quem nunca sofreu por amor, certamente
não sabe o que é amar”. É que a mocinha da novela das oito sofre, sofre,
mas sofre tanto a trama interia por aquele amor impossível, pra só no
último capítulo se casar de branco e consecutivamente ficar grávida. É
assim nas novelas, nos livros, nas canções e nos filmes que crescemos
consumindo: o amor pra valer a pena tem que ser complicado, se vier
“fácil”, não é amor.
Tem gente que tem tara por briga, que parece ter fetiche por um
ranca-rabo. Briga por qualquer coisa e a todo o momento. Se o cara olhou
pro lado, se ela não atendeu o telefone, se ele esqueceu de ligar, se
ela conversou com fulano, se ele deu carona pra ciclana, se ela vestiu
tal roupa, se ele dirigiu de tal jeito, se ela foi em tal local…
Qualquer motivo é motivo. E o que vale não é chegar numa conclusão ou
esclarecer um ponto. Vale apenas provar que está certo. E para isso tudo
é permitido: insultos gratuitos, xingar a mãe, gritar, espernear, até
afirmar o que não acredita apenas para defender o seu ponto de vista e
vencer a “disputa”. Essas pessoas devem ser viciadas no sexo de
reconciliação. A adrenalina da discussão misturada com o medo/alívio de
perder aquela pessoa, somado a agressividade verbal, que é transposta
para o ato sexual, produzem resultados impressionantes (viciantes?). Só
isso pra explicar tanta briga regida por uma insistência em permanecer
junto.
Discussões têm sim o seu lado engrandecedor. Com elas aprendemos a
ouvir, a ver o que fizemos de errado, o que precisa de reparos. Ficamos
mais altruístas, passamos a ter que enxergar também através do ponto de
vista do outro. Toda discussão é válida quando se chega a algum lugar.
Quando se conversa e não se grita. Quando conseguimos verbalizar
sentimentos e nos abrir para tentar explicar realmente o que nos aflige e
nos incomoda. Sem meias palavras, sem meias verdades. Só se constróii
algo firme quando se tem como base a sinceridade. Discussões que não os
afastem e sim aproximem.
Agora, pior que ter desentendimentos, é quando se tem a mesma briga
várias vezes. A mesma discussão sem fim. Essa é a primeira prova de que o
relacionamento apresenta rachaduras. O ressentimento mostra feridas que
ainda não foram cicatrizadas e que podem até não fechar. Aí as brigas
tornam-se parte da rotina, forçam as rachaduras, fazem com que elas se
desgastem com o tempo, e não há relacionamento que aguente. Quando se
está cego de amor é difícil enxergar quando esses remendos são forçados.
Ama-se tanto, tão urgentemente, que a gente tem a impressão de que só o
amor basta, e tem coisas que preferimos não ver. Tornamos-nos
masoquistas sentimentais e nem percebemos. Mas acontece que amamos a dor
acima de nós mesmos. E aí fica a dúvida: até quando o autoflagelo vale a
pena?
Laís Montagnana
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