O seu cheiro e os seus sussurros no ouvido não me trazem mais
arrepios, nem aquela movimentação alegre na cueca. Suas manias não são
atraentes como quando nos conhecemos. Você continua linda quando prende
os cabelos num coque alto e passa aquele batom vermelho que tantas vezes
tirei com nossos beijos apressados, mas hoje eu prefiro cerveja com os
amigos, e sua mão nas minhas costas agora
me pinica inteiro. Eu também vejo seus olhos insatisfeitos, eles te
denunciam. Então, por que continuar tentando? Não temos essa obrigação,
podemos levantar da poltrona e abandonar o filme pela metade.
Primeiro tentamos um jantar naquele restaurante que eu te pedi em
namoro, depois, tentamos aquela viagem para o litoral, fingimos deixar
todos os problemas por aqui, mas eles desceram a serra conosco. Nosso
pacto de resolver pendências e discordâncias não foi suficiente. A cada
briga, jogávamos um pouco do que construímos pela janela, a cada remada
em direções distintas, nossa parceria naufragava. Uma âncora de
trezentos quilos chamada desarmonia se fincou nos nossos dias e agora
precisamos dar um jeito nisso, minha cara.
Nossa relação me roubou o sorriso de criança boba que brinca com
brinquedo novo. Faltou você me surpreender com aquele convite inusitado
que você nunca mais fez. Faltou você me dizer ‘não’ de vez em quando ao
invés de concordar sempre com tudo o que digo. Faltou vontade mútua para
fugirmos do tédio. Faltou combustível e nosso carro ao ermo, agora é
destruído pela ação do tempo. Eu pego carona no próximo bonde, porque me
sentir vivo é minha maior prioridade. É primavera e não florescemos. A
vida precisa continuar, devemos plantar a semente em outros jardins.
Não coloque a culpa em mim, não me chame de injusto ou impaciente e
nem queira fazer eu acreditar que sou um vilão. Caso não aconteça a
ruptura, ficaremos estagnados, impossibilitados de conhecer algo novo,
algo melhor e grande, que traga principalmente a sensação de estarmos
vivos novamente. Fernando Pessoa descreve com maestria: ”Há um tempo em
que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos
lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à margem de nós mesmo”.
Toda dificuldade nessa transição é opcional. Devemos nos despedir do
passado, sem dó, sem dor. Não esquecê-lo ou guardá-lo em um baú de
coisas antigas – desses que deixamos no fundo do armário, no mundo de
Nárnia – não é isso, é apenas uma despedida. Devemos olhar para trás com
carinho e a sensação de que fizemos e vivemos o que era para ser feito e
vivido, porém o foco agora é o que está por vir, o antigo não tem mais
brilho, então é para frente que devemos olhar.
Distribua amor, compaixão, generosidade e vibrações positivas. O
universo nos devolve em triplo. Doses de atitudes, por favor, de seis em
seis horas. Somente acreditar em nós, não serve mais para mim. Eu não
consigo mais te admirar e me sinto incompleto ao seu lado. Não te culpo
por isso, só precisamos achar um novo par. Alçar novos vôos é tão
necessário quanto riboflavina, cálcio ou serotonina.
Voltará a ser feliz, isso é o que eu te desejo, pois não quero me
sentir culpado quando eu voltar a ser. Quando não alimentamos nossa alma
deixamos de brilhar. Somos mais de sete bilhões de estrelas com luz
própria, temos total capacidade de atingir nossa felicidade, são
incontáveis as possibilidades, devemos priorizar nosso compromisso em
abastecer nossas necessidades vitais. Seja com um novo projeto
empreendedor, um novo apartamento, um novo romance ou algo que te faça
suar as mãos. Faça isso por você – desprenda-se. Arrisque. Abra a porta e
veja o que te espera do outro lado.
Eder Fabricio
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