"Numa
conversa batida dessas que a gente sempre tem, ele me disse que odiava
perder as coisas. Assim, sem nada subentendido, se referindo a uma chave
e só. Pensei em perguntar como ele vai se sentir então, quando
finalmente perceber que me perdeu. Resolvi deixar pra lá... É que é um
pouco automático, quando a gente gosta, espernear e tentar puxar de
volta algo ou alguém que a gente perde. E eu não tenho estrutura
emocional pra assistir, fria, esse tipo de cena dramatizada. Esses
apelos, com tanta alma, que era exatamente tudo que eu sempre esperei
por tanto tempo, de uma outra forma, num outro momento. Deixa pra lá, um
dia você vai ter que encarar os fatos e parar de fingir que nada está
acontecendo, como você sempre faz. Vai ter que parar de fingir que não
nota que eu não tenho mais vontade de te contar cada segundo do meu dia,
falar com você por horas, te ver todos os dias possíveis, puxar
qualquer assunto bobo só pra ter você ali por mais algum tempo e talvez
esse seja o sinal mais gritante do fim do amor. "Relaxa, foi só uma
chave", digo engolindo a oficialização do fim, mais uma vez.
Pensando,
realmente, que a droga da chave não foi nada, devia estar preocupado com
coisa pior. Mas tem gente que perde e nem sente, tudo bem. De verdade.
Melhor assim. Cada dia tô mais longe e, muito em breve, estarei longe
demais pra ouvir com qualquer tentativa de argumentação ou promessas de
recomeços. Nesse dia, veja bem, se você ainda não tiver aceitado nosso
desfecho, te conto meu novo começo e deixo claro o momento em que
deixamos de existir. Automática, como nunca imaginei ser contigo, deixo
meu adeus e votos de felicidade, sem mim. Que você, de vez em sempre,
morra de saudade, mas, principalmente, que um dia aprenda a ser dois."
Marcella Fernanda
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