Estranho

Foi estranho te ver aquele dia no shopping. Tão estranho como o ser que eu me tornei pra você, nada mais do que um mero conhecido. É engraçado, em algum momento da vida encontramos pessoas fundamentais na nossa existência, vitais para a nossa respiração. Basta o calendário mudar a foto e pronto, tudo está diferente. Por que isso acontece? Não podemos simplesmente começar o segundo tempo do nosso jogo de amor, como se esses últimos 8 anos fossem apenas aqueles 15 minutos de intervalo? Você parece falar um idioma imaginário, nem o sotaque reconheço. Logo eu que dominava tanto a tua língua.

Teus olhos não me intrigam mais. São reveladores. Consigo enxergar inúmeras paixões através da tua retina castanha. Morro de ciúmes das mulheres que te fizeram sorrir. Meu consolo é que, nesses casos, as mulheres sempre esquecem com mais facilidade. Tenho raiva mesmo, súbita, incontrolável, de quem te fez chorar. Esses seres desprezíveis, meus inimigos mortais repentinos, batizam cada lágrima tua e insistem em tocar teu coração.


Nunca achei que fosse te reencontrar, pois para haver o reencontro é preciso, primeiro, a separação. Te ver depois de tanto tempo é ouvir a minha bola de cristal - que traçava o nosso destino - estilhaçando no chão. Era para estarmos naquela mesa ali do canto com as duas crianças, tomando sorvete e não passarmos correndo um pelo outro porque preciso pagar a conta atrasada da Renner. Eu sei que não sentimos mais nada um pelo outro, mas eu achava que era pra sempre, entende? Você era o meu plano perfeito, o crime permitido, a sentença de vida. Nosso roteiro já estava pronto e com vários finais felizes, bastava escolher. No entanto, mal deu para aproveitar o nosso curta-metragem.


Mas e você? Fala alguma coisa, não aumente minha abstinência por notícias tuas. Não me olhe com ar surpreso, eu também queria estar formado em direito e passeando de terno por aqui, ao invés desse traje com all star e camiseta. Como diria o Nando Reis: "me diga onde vão teus pés."


Tá bom, não precisa. Essa cena de “revival” já respondeu o que eu queria saber. A verdade é que mudamos nossa história, mas o filme é o mesmo. Não posso continuar vivendo essa paixão nostálgica, tentando lembrar quem eu era quando te conheci. Infelizmente, aquele cara não existe mais. Vou encarar esse desencontro como um reencontro comigo mesmo. Com licença que o tempo de isenção do estacionamento está terminando e eu tenho mais o que fazer, como por exemplo, viver pra mim.

- Por Chico Garcia

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