“Não existe meio termo para aeroportos: ou são
tristes demais, ou são felizes demais. Nunca é meio-feliz ou
meio-triste. Aeroportos simbolizam a chegada do sorriso ou a partida
dele, entende? Já vi muita gente sair por aquela porta de desembarque,
cuspindo alegria e cheios de abraços confortantes, assim como já vi
muita gente entrar pela mesma porta, carregados de lágrimas e saudade.
Acho que ninguém nunca havia parado pra pensar em algo tão idiota, mas
ontem, a caminho do aeroporto, eu parei. Era madrugada, mas o céu já
estava sofrendo a sua metamorfose radiante, mudando do negro escuro pro
laranja ácido. O voo estava marcado pras 6:15 da manhã. Seis hora e
quinze minutos levariam um pedaço do meu coração. Nunca tinha odiado
tanto um aeroporto quanto aquele instante. Nunca, em todas as histórias
que já passei nesse lugar onde aviões decolam e aterrizam, me senti tão
quebrada por dentro. É isso: aviões nunca descolam sem aterrizar, assim
como não aterrizam sem uma hora decolar outra vez. Meu coração trincava a
cada barulho de turbina que se ouvia naquele lugar. As lágrimas
saltavam dos meus olhos a cada vez que os alto-falantes citavam que era
a-ultima-chamada-pro-voo-5996, embarque imediato. Imediatamente o chão
de abriu. Malas e mais malas eram depositadas naquela esteira infinita,
enquanto tudo o que se ouvia era o eco corrosivo pelos corredores
lotados. Tanta gente. Tantas famílias, histórias, pressa e calmaria em
um mesmo tom. Pessoas ansiosas pra voltar pra casa; pessoas tristes ao
sair dela. Pessoas se despedindo com data pra voltar; pessoas sem data
pra voltar ao se despedir. Pessoas que vieram passar as férias na minha
cidade; outras que cansaram de passar as férias aqui. Check-ins
realizados, sonhos ainda inacabados, hora de partir. Aeroportos -
lotados ou vazios - nunca são cem por cento tristes assim. Enquanto uma
mãe chora porque a filha vai fazer faculdade em uma cidade distante,
outra sorri porque o filho voltou da viajem de formatura. São em
aeroportos que os abraços mais calosos são dados, assim como os beijos
mais cheios de desejo. E tudo é cinza demais ou colorido demais. Eles
podem levar o seu coração embora. Ou podem devolvê-lo a você.”
— | Capitule, |
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